Ah, a cannabis! Um assunto envolto por tabus, mas quando analisado por olhos científicos é inegável o efeito benéfico que essa planta tem no alívio da dor. E isso não vem de hoje, viu?
O uso da cannabis x manejo da dor:
Há pelo menos 2700 anos a cannabis já era utilizada para o alívio da dor, quando o imperador chinês Shen Nung descobriu as propriedades terapêuticas da planta. Não é atoa que ele é considerado o pai da medicina chinesa.
Então, terapias que utilizam a cannabis não são, como muitos pensam, assunto exclusivo da atualidade. Na verdade, se a gente parar hoje para estudar um pouquinho sobre tudo isso, sabemos que sua proibição histórica foi permeada por interesses econômicos e preconceito racial.
Bom, independente de ser novidade ou não, mais uma vez esse assunto entra em pauta.
Atualmente temos milhares de trabalhos científicos demonstrando a capacidade da cannabis em reduzir a dor e melhorar a qualidade de vida de inúmeros pacientes que sofrem com dores crônicas.
Esses estudos, que foram feitos durante anos e anos, foram essenciais para que em 2020 a cannabis fosse retirada pela ONU da lista de drogas perigosas e reconhecida, pela mesma instituição, por seus fins terapêuticos.
Bom, vamos falar um pouco mais sobre suas propriedades?
A cannabis é uma planta que contém mais de 120 fitocanabinoides. Dentre eles, os mais estudados atualmente são o canabidiol, abreviado para CBD, e o 9-TCH.
Quer saber como eles atuam em nosso organismo?
A cannabis e todos os produtos que a tem como base atuam no sistema endocanabinoide do nosso corpo.
Calma, eu vou explicar.
Esse sistema é composto pelos receptores canabinóides, pelos endocanabinóides e pelas enzimas responsáveis pela síntese e degradação dos endocanabinóides.
E é esse sistema que induz analgesia. Vejamos como:
Os canabinóides aumentam a atividade dos mecanismos de analgesia endógena, ou seja, os mecanismos de controle da dor do nosso próprio corpo. Além disso, eles diminuem a liberação de neurotransmissores, a excitabilidade neuronal e o componente emocional da dor. Isso explica o efeito calmante que ele exerce na pessoa.
Além disso, eles também têm efeito em nosso sono: melhoram sua qualidade, o que contribui para o tratamento da dor.
Mas quando ele deve ser utilizado?
Se seu efeito principal é o controle e alívio da dor, o canabidiol pode ser utilizado no controle de diferentes condições que tenham efeitos dolorosos ao paciente.
Algumas dessas condições são:
- Dor oncológica com o efeito de poupador de opióides (composto químico com efeito semelhante aos da morfina);
- Dor orofacial crônica,
- Migrânea (enxaqueca);
- Fibromialgia;
- Diferentes tipos de dores neuropáticas (uma das dores de mais difícil controle)
Uma outra dúvida muito comum que costuma surgir quando o assunto é a cannabis é: se seu efeito é de analgesia, seu uso é realmente necessário? Afinal, já não temos analgésicos o suficiente?
Em suma, a dúvida é: por que a cannabis agora?
Bom, é verdade que já temos vários analgésicos à nossa disposição. Mas quando o assunto são os canabinóides, não tem pra eles: é a melhor relação benefício-segurança que se pode ter, ainda mais quando os comparamos com demais analgésicos que normalmente são utilizados no controle das dores neuropáticas crônicas.
Veja o porquê dessa relação: primeiramente, os canabinóides favorecem uma melhor qualidade de vida para quem os usa. E em segundo lugar, os efeitos colaterais que ele apresenta são muito mais leves e favoráveis do que os causados por outras medicações.
Além disso, não podemos esquecer da segurança: os canabinóides são analgésicos muito, mas muito mais seguros que os opióides e ao contrário do que muitos pensam, não há nenhum relato de morte por overdose de canabinóides. Já o mesmo não pode ser dito para os opióides, que são os analgésicos normalmente usados.
Ou seja: quando olhamos para esse assunto de maneira clara e limpa de preconceitos, conseguimos entender o motivo pelo qual o uso terapêutico da cannabis está sendo cada vez mais abordado no mundo científico.
E é bom irmos nos acostumando, porque com os resultados promissores desses estudos, tudo indica que os canabinóides ainda vão dar muito o que falar.